sábado, 7 de novembro de 2015

Ler o passado ajuda a construir o futuro



Há alguns escritores que nos aconselham a ler os clássicos. Professores, jornalistas e educadores em geral também têm feito isso de umas décadas para cá. E por quê? Devido ao número reduzido de pessoas hoje que se dão ao trabalho de se debruçar sobre estas obras ditas clássicas.
Nas escolas seja de que nível for, principalmente no Brasil, quase não se incentiva a leitura dos clássicos, chegando mesmo a ser corrente a ideia de que são textos muito difíceis e inacessíveis à juventude de hoje. Claro que discordamos disso porque não podemos aceitar que cérebros do século XXI sejam inferiores aos cérebros do século passado ou de qualquer outro que nos antecedeu.
Assim, precisamos primeiro definir o que é clássico, expor algumas razões para a leitura dos mesmos e defender a ideia de que rechaçar o passado faz parte de uma ideologia que tem intenções específicas que visam a massificação mais forte da população mundial para um controle e manipulação determinados a serviço de interesses globais, apoiados por velhas instituições que não se renovam e querem manter-se no poder, custe o que custar.
 Não, não defendemos uma teoria da conspiração, porque isso é claro demais para fazer parte de lendas urbanas ou teorias conspiracionais de governos ocultos, até porque, nada há de oculto. Somente a ignorância é que dá a desculpa do oculto. Hoje, temos informações suficientes e disponíveis gratuitamente para que não se acredite em ideologias terroristas.
Este já é um dos argumentos em defesa da leitura dos clássicos: deixar de ser enganado e/ou manipulado por interesses escusos e mal intencionados. Mas o que é um clássico? É apenas uma obra antiga? Quanto tempo ela tem que ter de existência para ser considerada antiga? 15, 30, 50, 100 anos ou mais? E toda obra antiga é um clássico? Um clássico tem que ser considerado antigo (leia-se velho na linguagem de uma juventude desinformada)?
Ítalo Calvino, autor de Seis propostas para o terceiro milênio,  tem um curto mais elucidativo artigo em defesa da leitura dos clássicos no livro de mesmo nome - Por que ler os clássicos. Na realidade, ele relaciona 14 definições para o qualificativo "clássico" e a partir das definições está feita a defesa em prol de sua leitura. Eu sigo mais adiante, pois creio que a importância não fica muito clara apenas com a definição do que é um clássico, pelo menos para nós brasileiros, pelo menos para uma massa de leitores jovens que estão sendo enganados neste país.
Um clássico é uma obra fundamental para a construção do humano no ser. É comum dizermos que pertencemos a raça humana, mas não sabemos o que isso significa. É apenas um adjetivo para nos diferenciar da raça animal, pois nossa semelhança com todo bicho é mais que evidente, é genética. Logo, o que nos diferencia dos animais? O ser humano. E o que é ser humano? É pensar? Raciocinar? É possuir diversas inteligências?
Estudos de Biologia têm provado que muitos animais comungam conosco destas potencialidades. Os animais pensam, possuem inteligências, seu instinto é uma forma de racionalidade... enfim, o que realmente nos torna únicos como espécie? O ato de sonhar e criar, de poder mudar, modificar, a si mesmo e ao mundo em volta. A capacidade de melhorar a si e o ambiente, isto nos diferencia dos animais. E o que isso tem a ver com a leitura dos clássicos?
Uma obra clássica é uma obra de criação. A criação de um sonho. A observação de uma ou mais possibilidades de existir, de ser, de estar no mundo. E as obras clássicas são a nossa revelação, o nosso sonho, a nossa criação. Cada obra nos revela um pouco como seres cheios de infinitas possibilidades e deixar de ler estas  obras, de ao menos conhecê-las, é deixar de saber sobre si mesmo, sobre o nós humanos que somos. Uma obra clássica pode ser antiga, mas não é velha nem ultrapassada. Há autores novos, de produção recente, que já produziram obras que podemos chamar de clássicas. Eu cito apenas um de uma grande lista - José Saramago, autor de o Ensaio sobre a cegueira e Evangelho segundo Jesus Cristo.
Uma obra clássica traz em si uma atualidade que podemos dizer quase absurda, pois como um texto do século XVI ou mesmo de séculos antes do calendário oficial romano (A.C) pode ter tanta atualidade? Eu me refiro a Odisseia de Homero, a Hamlet/ Otelo de Shakespeare, a Peregrinação de Fernão Mendes Pinto ou mesmo a Dom Quixote de Cervantes. Em todas essas obras podemos ler o homem e a sociedade de hoje, suas angústias, suas contradições, seus problemas mais prementes. Nestas obras está presente o mesmo homem de hoje e é isso que (deveria) nos surpreende(r).
Uma obra clássica nos situa num contexto cultural. Somos seres políticos no sentido de convivência e relacionamentos sociais - da polis (cidade). E a criação cultural responde sempre a um processo de continuidade (evito o termo evolução, pois traz o conteúdo valorativo de melhor). Ou seja, uma obra se refere a outra que se refere a outra, que relê outra e assim por diante. Se alguém desconhece as obras que a antecederam pode cair no erro de desvalorizar a atual ou supervalorizar algo que não tem valor em si por ser mera repetição sem contexto, modismo, literatura intencional massificante.
Podemos definir uma obra clássica também usando o recurso dialético da negação. Um clássico não suscita emoções corriqueiras e banais, não faz chorar de modo apelativo, não aponta soluções fáceis, não esgota na página final do livro, não conta apenas uma história como uma notícia de jornal, não desaponta, não induz, não faz profecias infundadas globalizantes. Logo, podemos com essas não definições, descartar muitas publicações que estão sendo vendidas como:  os mais vendidos, os mais importantes, best sellers  ou o rótulo propagandístico que seja.
Poderíamos elencar 30, 50 ou mesmo 100 obras clássicas fundamentais da cultura ocidental e ainda seria pouco. Da literatura brasileira e portuguesa, seria fácil eleger pelo menos 50 obras que deveriam ser lidas ao longo dos 7 anos escolares quando se ingressa numa certa maturidade (6º ano fundamental ao 3º ano ensino médio). Isso garantiria, com certeza, uma boa formação aos ingressos no ensino superior, fosse para que área fosse.
Todavia, quando nós defendemos a leitura dos clássicos, defendemos a leitura integral, não adaptada, pois não se trata de saber uma historinha, um resumo de enredo, uma informação do que se trata e sim de ter a experiência do texto com sua dificuldade, sua linguagem, seu mistério. A experiência direta da fruição, acompanhada de professores ou tutores experientes e bem formados, produziriam, com certeza, uma boa leitura, inclusive, um prazer ainda desconhecido de nossos estudantes. Com isso, poderemos promover o crescimento, a maturação deles hoje, preparando-os realmente para a vida, disponibilizando a variedade para o bom exercício da escolha e estrutura para a continuidade de sua formação.
Umberto Eco, autor de o Nome da Rosa,  não só defende a leitura dos clássicos como a coexistência do livro físico com os eletrônicos. Ainda não chegamos ao estágio de adaptações rápidas e nossos olhos precisam talvez de alguns séculos para se habituar à leitura nestes meios sem maiores danos que os já conhecidos. Entretanto, é bom frisar: sempre existirão as obras que não estarão disponibilizadas nos meios contemporâneos, por diversos motivos. E para que não caiamos em nenhuma idiossincrasia fundamentalista, a manutenção de livros físicos nas bibliotecas, inclusive dos clássicos - pelo menos nas maiores - é essencial.
"Os clássicos são aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na cultura ou nas culturas que atravessaram (ou mais simplesmente na linguagem ou nos costumes)." 1
 Para terminar, não podemos aceitar a desculpa de que jovens não são capazes de ler as obras que os antecederam. Se isso acontece, é chegado o momento de questionar nossas escolas, com seus conteúdos e professores, didáticas e pedagogos. Um indivíduo não pode passar  9 ou 12 anos de sua vida e sair igual ou pior que entrou numa instituição que promete a formação e o crescimento de cada um. Não pode sair odiando toda leitura, seja clássica ou não. Sair sem conseguir realmente ler, seja o que for, conforme nos informam os dados de alfabetizados funcionais atualmente no país hoje.
 Não acredito na deformação ou na minoração da capacidade cerebral de nenhum indivíduo que tenha nascido saudável neste século. Aposto sim na falência de um modelo escolar pleno de ideologias e idiossincrasias, preocupado com o proselitismo e não com a formação de um cidadão pleno e consciente dos seus direitos e deveres, inclusive no que toca ao contexto artístico-cultural. E apoio minha reflexão com as dos filósofos Edgar Morin (A cabeça bem feita) e Pierre Bourdier (A economia das trocas simbólicas).
"Se consegui ver mais longe é porque estava sobre os ombros de gigantes."2

1. CALVINO, Ítalo. Por que ler os clássicos. Cia das letras, 1991. p11
2. HAWKING, Stephen. Sobre os ombros de gigantes. Elsevier, 2005, p.12.

por Cris Danois










domingo, 22 de setembro de 2013

NOVO GÊNERO LITERÁRIO?

As grandes e médias editoras não cessam de manipular o imaginário das pessoas, inventando gêneros que nada tem a ver com a evolução ou progresso da Literatura Universal. Editados para fins comerciais, os gêneros criados dentro de grandes escritórios determinam o que vai ser consumido, lido ou não, pela maioria das pessoas. As tiragens são de milhões de exemplares, já traduzidos para os principais idiomas do mundo. Ainda nem chegaram às Livrarias e já saem com a frase marqueteira: um milhão de cópias vendidas.
    Em contrapartida, editoras nacionais, menores ou iniciantes, aderem o modelo a fim de angariar fundos rápido e enriquecer, não há outro motivo para que se dediquem todos ao mesmo gênero. Fazendo uma retrospectiva, este tipo e outros menos divulgados, sempre fizeram as festas das massas. Vendidos em feiras, publicados em jornais menores como folhetins, o gênero “dama das camélias”, erótico, western e pseudo-policial, era vendido barato, aliás, bem barato, custando cerca de um ou dois reais no máximo e não o que custam hoje – observem a manipulação! Não tinham nenhum cuidado literário nem vocabular, ao contrário, primando pela simplicidade para ser facilmente digerido pelas classes mal alfabetizadas, o que chamamos hoje de analfabetos funcionais, era um passatempo em ônibus superlotados, trens e filas de espera intermináveis onde só o povão ficava.
    Comparando à sétima arte, o gênero erótico ou pornô, sempre foi veiculado com restrições de idade e disposição nas locadoras. Nunca foi enaltecido como o gênero de arte, tendo o seu devido lugar dentro do espectro cinematográfico - sub-arte. Caracterizam-se por enredo pobre, visando um único fim, o ato sexual em si, seja de que forma ou natureza for.  O mesmo não acontece com os livros que estão expostos em todas as livrarias na cara de todos os clientes e adolescentes, que mal conseguem se afirmar no mundo ou ter ideias. São capturados pelo instinto e pior, sem necessidade, já que os hormônios dão bem conta do assunto. Os adolescentes e jovens não precisam de estímulo para exercer sua sexualidade. O que ocorre, então, é uma hipertrofia que canaliza toda a atenção e energia para um só fim. E essa mesma sociedade é que combate a gravidez e sexualidade na adolescência além de outras consequências nefasta do sexo indiscriminado, com programas escolares e sociais. Hipocrisia, apenas isso, hipocrisia!
    As mães (porque esse gênero está como sempre muito mais direcionado ao público feminino, hoje simbolizando a liberdade da mulher!) são as primeiras a lerem e passarem para suas filhas, como se não tivesse nada demais elas serem mentalmente mais estimuladas do que já são hoje. E a questão que se coloca é a seguinte: com tanta liberação através de todos os meios de comunicação e agora arte, para que tanto estímulo numa só direção, já que o texto não acrescenta nada além do pobre enredo “picante” com descrições mais ou menos explícitas de jogos sexuais, mudando o nome da personagem, seu endereço e lugar de trabalho... no mais, tudo igual?    Façamos livros sobre o ato de comer, sobre gula, sobre glutões, sobre pessoas gordas e compulsivas... creio que não daria muito certo, afinal, são pouco os que aguentam ultrapassar os limites da normalidade, da satisfação estomacal. Mas sexualmente falando, nada é o bastante e cai-se no vazio extremo com provocações constantes do sexo pelo sexo. Há blogs, páginas de face, digestivos culturais escritos por jornalistas e porfessores de literatura (pasmem!) que enaltecem o gênero com receio de caírem no ostracismo, no esquecimento, no remar contra a maré, hipervalorizando os romances que chegam como comidas enlatadas, fast-food, prontinhas para consumo rápido e imediato. Foram-se anjos, vampiros, lobisomens e súcubos... Venha e perpetue-se a baixaria erótica.
    Como o objetivo básico e único das editoras é ganhar dinheiro, faturar lucros enormes (exorbitantes) sempre crescentes, este gênero está fadado a permanecer, com variações idiotas do mesmo tema, pois que, no fim, falar de sexo pelo sexo em si, vira uma mesmice. E os autores ou autoras, já repararam nos nomes - alguns são grotescos - e a maioria não existe. São escritos por grupos de funcionários que trabalham como copy desk nas grandes editoras para sobrevivência... alguns são jornalistas, mas se escondem atrás desses nomes de efeito. O mesmo não ocorre com a boa e verdadeira literatura, essa sim, totalmente esquecida além de perdida, segue seu rumo no anonimato, percorrendo outros caminhos de divulgação.  Ninguém arrisca mais a inovação artística como se tudo já tivesse sido feito e escrito... não há mais manifestos, propostas, movimentos artístico-literários...  
Entretanto, quanto mais veiculam e adotam essa baixa literatura, menos capacidade de absorver a boa literatura e os clássicos se desenvolve. E pensar que Ítalo Calvino e outros poucos grandes nomes da Literatura já gastaram tempo mostrando e provando a importância de se ler os clássicos, seja de literatura ou mesmo de Filosofia. E os compêndios do tipo 100 livros para se ler antes de..., 100 melhores contos universais, 100 melhores isso ou aquilo, em nenhum consta esse tipo de leitura.
    Outra hipocrisia: os jovens passam o período escolar quase todo sem leitura, com baixa literatura, lendo literatura estrangeira enlatada, quando leem,  e na véspera do vestibular a cobrança é pelos clássicos. Incoerência, absurdo, insensatez total. Em alguns meses, o vestibulando vai ler e absorver uma boa literatura, assim de pronto, sem comentários, sem estudo, depois de ter deixado seu cérebro frouxo anos seguidos? Quem orienta isso? A troco de que esse disparate, esse abismo, essa burrice para não dizer maldade? Os mesmos professores, que não adotam leituras decentes durante todo o  ensino médio, não trabalham os textos em sala de aula com mil desculpas, são os que fazem os programas para o ingresso nas Faculdades, quando não ajudam na elaboração das provas. Resultado: a minoria elitista, rica, de colégios particulares com ensinos diferenciados ingressam nas grandes universidades, mormente as públicas. Ao resto, sobra o pagou-passou.
    Bom, minha crítica está longe de ser puritana ou saudosista. É fortemente política com base filosófica, psicológica e pedagógica. A quem interessa esse grande circo armado? A quem interessa essas manipulações das massas, incluindo cada vez mais setores da sociedade? Um pouco de leitura de História séria traria a resposta para a ponta da língua.

Cris Danois
 

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

O FUTURO DO LIVRO E DA LEITURA


    Desde o início da chamada era digital, vem-se comentando, especulando, prevendo, induzindo o fim do objeto livro. Uma das maiores invenções da Humanidade, o livro vem se desenvolvendo há séculos e podemos dizer, ainda não terminou, não esgotou todas as possibilidades e surgiu a versão digital para competir com ele. Entretanto, apesar dos maus agouros, acredito na permanência do livro por muito tempo. Grandes autores, professores, filósofos e pensadores corroboram esta ideia, vide o livro de Umberto Eco sobre a questão – O Fim do livro (2010). Temos que repensá-lo, que refazê-lo, mas ainda é um dos melhores objetos para leitura e desenvolvimento do conhecimento humano.
    O computador como veículo seja em que formato for, ainda é muito incomodo para leitura. Em termos de pesquisa e comparações fica inviável. Apesar do grande número de possibilidades em conteúdo, a maioria é repetitiva e grande parte não confiável ou parcial. Não consigo ver outra forma mais confortável e dinâmica de pesquisar sobre um assunto que vou escrever que ter uma mesa cheia de livros abertos, poder virar páginas, marcar as páginas ou partes do texto a citar, colocar pesos de papel, canetas ou lápis entre elas... enfim, interagir com os livros a fim de concluir alguma coisa, de produzir outro texto, outro livro, acrescentar mais um ponto no Universo do conhecimento.
    Muitos reclamam do custo do livro, das consequências para publicação dos mesmo, mas não se pensa no quanto se ganhou e se ganha com sua publicação. Não falo apenas economicamente, mas social e espiritualmente. Não são os livros os maiores responsáveis pelo desmatamento. Não são os livros os responsáveis pelo aquecimento global, pela poluição do ar e das águas, pela fome e miséria devido a má distribuição da renda do mundo, pelas doenças terminais, pelas guerras. Ao contrário, acredito que se a Humanidade tivesse consumido mais livros, conhecesse mais sobre o mundo em que vivemos e nós mesmo, muitos problemas seriam resolvidos ou até mesmo deixariam de existir.
    O objeto livro permite, além da viagem da leitura, a liberdade de escolha para sua fruição – pode-se ler onde quiser, como quiser, em qualquer lugar independente de energia elétrica ou conexões. O lançamento do Kindle da Amazon é até interessante, mas não permite uma série de movimentos típicos de um leitor atento e interessado. É cansativo, apesar de ser menos que a tela de um monitor ou notebook. Mesmo no tablet, cansa-se mais que a leitura feita no papel. Deixo esta indicação para que os médicos e pesquisadores examinem a questão isentos de propinas. Os outros que vieram em seguida, são inferiores. Os e-books são caros para o que são e cansam da mesma forma, além de muitos estarem incompletos, não sei porquê. Tem ainda o caso dos livros editados antes desta febre.
    Quanto aos livros infantis, estes não serão substituídos tão cedo. Ao contrário; o nível de desenvolvimento gráfico dos livros infantis tem crescido tanto que hoje só não começa cedo a leitura quem realmente os pais não querem ou não deixam. Os livros têm até cheiro... só falta sabor. Podem dormir neles, tomar banho com eles, comer com eles, fazer tudo que um amante da leitura sempre quis fazer com seus livros de papel. São interativos, respondem perguntas, desafiam o leitor além de contar a história. E as ilustrações? Este é um mundo à parte que convive com o universo do texto escrito que também tem sofrido alguns embates e preconceitos. Mas nada como um livro bem ilustrado. Um ilustrador alemão, que não me recordo o nome agora, depois de diversos livros ilustrados à mão, fez sua incursão na ilustração digital. Sua experiência e vivência foram relatados na última feira de livro infanto juvenil de Frankfurt: ele detestou a experiência, como usuário e como fruidor. O resultado final ficou “clean” como dizem, “perfeito”, bem realista, mas perdeu em conteúdo humano... não respira, diz ele.
    O computador com suas variantes, os programas e softwares foram desenvolvidos como ferramenta, não como um fim em si mesmo. Eles ajudam a realizar determinadas tarefas muito bem e melhor, mas aquilo que é da esfera do humano, do lado transcendente, impalpável, sentimental do ser humano, somente o homem pode fazer e realizar colocando sua alma no que faz. É como dizer que o chat substitui o bom bate-papo! As ilustrações vibram, conduzem os olhos, a alma do leitor, traçam caminhos onde quem lê, viaja. Acrescentam aos textos imagens suprimidas, implícitas, deduzidas.
    Os números e a estatística indica a questão do livro de forma positiva. Cresceram o número de editoras, no Brasil e no mundo. Cresceram o número de publicações. Aumentou o número de Livrarias, feiras e eventos de livros. Aumentou a oferta de livros abrangendo uma gama maior de empresas que não são livrarias. E, apesar do brasileiro continuar a ler muito pouco (1 livro por ano!), o número de leitores estrangeiros aumentou consideravelmente.
    Logo, podemos concluir que o mercado do livro, seja para o editor, o distribuidor, o livreiro, o autor, o ilustrador e os empresários ligados a área, está em crescente ascensão. Ainda não chegamos ao ponto ideal no Brasil – estimular mais a leitura, a compra do livro, o ato de fazer uma pequena biblioteca particular de gosto próprio... tudo isso precisa passar pela Educação. Principalmente, o ato de pesquisar que, há algumas décadas era baixo e hoje, apesar de ter crescido com o incremento das Universidades, é de baixa qualidade, precisa ser ensinado e cultivado desde o ensino fundamental, com ênfase nos cursos superiores. Precisamos formar uma nação de consumidores de livros, pois dentro deles está toda a cultura possível.





  
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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Mais obras da Biblioteca Nacional na Biblioteca Mundial Digital



    Um conjunto  de mais 110 fotografias raras da Biblioteca Nacional, pertencentes ao álbum Siege de Paris: 1870–1871 (O cerco de Paris: 1870–1871), feitas pelo francês Auguste Bruno Braquehais (1823–1875), pioneiro do fotojornalismo, passou a integrar, a partir da semana passada, o disputado acervo da Biblioteca Digital Mundial (WDL em inglês). O álbum faz parte da coleção Thereza Christina Maria, compilada pelo Imperador Pedro II e doada por ele à Biblioteca Nacional. A Coleção do Imperador: Fotografias brasileiras e estrangeiras do século XIX, com cerca de 23 mil fotografias do século XIX, é reconhecida pela Unesco, desde 2003, como Memória do Mundo. Veja aqui as novas fotos da Biblioteca Nacional brasileira na WDL. Acesse aqui todas as fotos da nossa coleção disponíveis na WDL.


Biblioteca Digital Ibero-Americana

A Biblioteca Nacional participou, esta semana, do lançamento da Biblioteca Digital do Patrimônio Ibero-americano  (BDPI), da qual é uma das fundadoras. Trata-se de uma iniciativa da Associação de Bibliotecas Nacionais da Ibero-América (ABINIA) cujo objetivo é a criação de um portal para a consulta e acesso aos conteúdos digitais inicialmente das bibliotecas nacionais do Brasil, Chile, Colômbia, Espanha e Panamá. Clique aqui e conheça as coleções da BN Digital que integram a Biblioteca Digital Ibero-americana.

sábado, 18 de agosto de 2012

Ziraldo tem toda razão

     Um bom artista distinguem-se das pessoas comuns não somente pela capacidade criativa ou pela capacidade de enxergar além do visível mas também pela crítica perspicaz,construtiva, muitas vezes irônica, da sociedade onde se vive. Poderia ter várias criticas contra Ziraldo mas não poderia de deixar de admira-lo pelas palavras que disse na última bienal. Poderiam até ser suas últimas palavras, mas só por tentar desmascarar nossa atual sociedade, por tentar tirar o óculos cor-de-rosa com que vários "pedagogos", raça que já deveria ter sido extinta , pais e futurosos de plantão insistem em usar, Ziraldo já merece todo o nosso crédito como grande artista.
    "A família brasileira não lê. Nós temos a internet que pode ser a fonte da vida e do conhecimento, mas o computador é usado como brinquedo. Muitos pais não percebem, mas seus filhos se tornaram idiotas” . Perfeito Ziraldo , concordamos em gênero número e grau. Lendo os comentários sobre essa frase, percebi que não só os filhos estão se tornando idiotas , os pais também. Não conseguem nem entender uma simples crítica. Se Ziraldo tivesse dito: nós temos o martelo que é uma excelente ferramenta mas é usado como brinquedo, teríamos muito menos críticas.  O problema que Ziraldo ressalta não é o computador mas sim o que fazemos do mesmo. As pessoas pensam que estão lendo mais e ficando mais sábias por causa da tecnologia e quando alguém ataca essa lei, é severamente atacado. Mas a realidade é completamente oposta. O brasileiro, principalmente, acha que esta lendo mais por acessar mais o facebook , quando na verdade fica atrás de países como Argentina, Índia e etc. no quesito leitura de livros. 
      A leitura de um livro, volto a ressaltar, não tem somente a ver com o adquirir conhecimento; o que por si só já seria mais do que uma justificativa.Entretanto, tem algo muito mais profundo. Tem a capacidade de observação, de abstração, de percepção, de cognição. o que a torna a  verdadeira malhação cerebral. Ficar horas lendo meio textos, 140 caracteres, ideias desconexas, sem ritmo, sem profundidade, é pura divagação e isso nunca deu nem vai dar o que uma verdadeira leitura pode oferecer. Por isso, nosso filhos estão ficando idiotas sim e a tendência é ficar cada vez mais.
    Enquanto alunos no MIT estão aprendendo com parede de quadros, os nossos estão querendo parede de facebook . Claro que isso vai ter consequências  , aliás já está tendo. Enquanto não investirmos realmente em educação , não adianta de nada sermos o sexto maior PIB do mundo graças as nossas riquezas minerais. Voltaremos a ser a colonia que sempre fomos, somente um pouco mais moderninha e com alguns senhores de escravos a mais. Só podemos mudar isso com a educação , o que inclui leitura, muita leitura , muito esforço e dedicação. Talvez esse seja o problema. Pois sempre que dizemos esforço, muitos contestam e acham melhor a velha sombra e água fresca da teledramaturgia brasileira. Mesmo que esta velha sombra seja feita agora pela parede do facebook e  que água seja fresca porque está dentro do ar-condicionado. Obrigado Ziraldo.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Carta aberta à Presidenta Dilma Rousseff - 13 FISL



Nós, participantes do 13º Fórum Internacional Software Livre, realizado em Porto Alegre entre 25 e 28 de julho de 2012, tomamos a liberdade de escrever esta carta pública endereçada a Excelentíssima Presidenta da República Dilma Rousseff, em nome da comunidade software livre brasileira, com o objetivo de manifestar nossa posição diante das políticas públicas na área de tecnologia da informação e internet implementadas por vosso governo.
Não poderíamos deixar de relembrar aqui a histórica visita que Vossa Excelência, e o então Presidente Lula, fizeram a este mesmo fórum, em sua décima edição, em 2009. Esta visita, que muito nos orgulhou, foi uma verdadeira celebração das liberdades digitais, e um reconhecimento dos esforços da comunidade software livre internacional, e, especialmente brasileira, na luta pela manutenção do conhecimento como bem comum. Os avanços e conquistas invejáveis produzidos pelas políticas públicas do governo federal do Brasil em direção às liberdades e à soberania tecnológicas foram reconhecidos e reafirmado o compromisso com esses valores.
Além do encontro do então Presidente Lula com os principais expoentes da comunidade software livre internacional, o momento foi marcado por seu discurso memorável, no qual o Presidente afirmou que em seu governo era “proibido proibir”, que “Lei Azeredo é censura”, além de determinar publicamente ao então Ministro da Justiça, Tarso Genro, a construção de um marco civil da internet.
Na oportunidade, Lula também reafirmou a defesa do software livre no seu governo, e foi ovacionado pelo público presente ao afirmar, em nome de todos os brasileiros:
"Nós tínhamos que escolher: ou nós iríamos para a cozinha preparar o prato que a gente queria comer, com os temperos que nós queríamos colocar e dar um gosto brasileiro para a comida, ou nós iríamos comer o prato que a Microsoft preparou para a gente. E, graças a Deus, prevaleceu, no nosso país, a questão e a decisão pelo software livre".


Além do compromisso assumido e cumprido durante o Governo Lula, e reafirmado pelo então Presidente durante o fisl10, em 19 de janeiro de 2010, no primeiro mês do vosso governo, foi publicada a Instrução Normativa nº 1, que dispôs sobre os critérios de sustentabilidade ambiental na aquisição de bens, contratação de serviços ou obras pela Administração Pública Federal. Dentre as diretrizes, destacam-se as determinações que proíbem o uso de componentes, ferramentas, códigos fontes e utilitários proprietários, e também a dependência de um único fornecedor, dando preferência ao uso de software livre - mais uma mostra de que o governo federal tinha ciência dos benefícios do tratamento dos bens imateriais como bens de domínio público, e da importância da manutenção do livre acesso ao conhecimento e seu compartilhamento como ferramenta de incentivo à democracia.
No entanto, hoje algumas questões pontuais têm deixado a todos nós, militantes do software e do conhecimento livre, apreensivos:
  • A retirada da licença livre Creative Commons do site do Ministério da Cultura e sua mudança de posicionamento em relação à reforma dos direitos autorais e às liberdades civis na internet;
  • A introdução, no acordo do Ministério das Comunicações com as Teles em relação ao plano nacional de banda larga (PNBL), de um grave precedente de limitação e tarifação do volume de dados que trafegam pela conexões das operadoras - como uma espécie de pedágio ou taxímetro cobrado por conteúdos de terceiros;
  • A iniciativa no INPI - Instituto Nacional de Propriedade Industrial - de abrir uma consulta pública indicando o patenteamento do software no Brasil, na contramão de uma das maiores lutas do movimento software livre internacional;
  • O Pregão Eletrônico (N. 116/7066-2012 – GILOG/BR) da Caixa Econômica Federal, na ordem de 112 milhões de reais, que contraria um histórico de investimento em desenvolvimento e adoção de softwares livres produzidos especificamente para a instituição.


Algumas décadas depois de os softwares e a internet terem se tornado elementos indissociáveis de nossas rotinas, já podemos afirmar com sólidos argumentos econômicos, científicos e sociais que:
  • o incentivo e a manutenção da luta pelo Software Livre,
  • a ausência de patentes de software, e a proteção da criação dos mesmos pela lei dos direitos autorais,
  • a manutenção de uma internet livre, neutra e inimputável,

são estratégias não só viáveis como indispensáveis para o despontar do Brasil como um país internacionalmente competitivo no que diz respeito à manutenção da inovação tecnológica, bem como para a manutenção das estratégias de democratização do conhecimento através da Inclusão Digital.
Por fim, confiantes de que podemos restabelecer a interlocução do governo federal com a comunidade software livre, da cultura digital e ativistas por direitos civis na internet, pedimos, publicamente, uma audiência de nossos representantes com Vossa Excelência para que possamos retomar o diálogo construtivo que sempre tivemos com o governo federal nestes últimos anos.


Aproveitamos também para manifestar nosso apoio e parabenizá-la pela condução da política econômica, dos programas sociais, em especial de combate à fome e à pobreza, e na firme postura contra a corrupção em nosso país.

Sem mais, subscrevemo-nos.

Ricardo Fritsch
Coordenador geral da Associação Software Livre.org, em nome dos participantes do 13º Fórum Internacional Software Livre
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